Tratamento
O tratamento deve ser individualizado
Existem várias abordagens terapêuticas diferentes para a SII. Os tratamentos são frequentemente propostos para reduzir a dor e outros sintomas da SII, e pode ser necessário tentar mais do que uma combinação de tratamentos para o controlo dos sintomas.
O tratamento da SII pode levar tempo; durante este processo, é fundamental o estabelecimento de uma boa relação entre médico e doente, o que permite perceber as expectativas e preocupações relacionadas com os sintomas, identificar quaisquer fatores de stress ou outros problemas que se desenvolvam. Deve ser fornecida informação que tranquilize o doente em relação à benignidade da condição e traçar metas realistas que incluam o controlo sintomático para melhorar a qualidade de vida.
Algumas opções para
combater os sintomas:
Monitorizar os sintomas
O primeiro passo no tratamento da SII é geralmente monitorizar os sintomas, hábitos intestinais diários, e quaisquer outros fatores que possam afetar o intestino. Isto pode ajudar a identificar fatores que agravam os sintomas em algumas pessoas com SII, tais como a lactose, ou outras intolerâncias alimentares, e o stress. Fazer um diário para acompanhar a dieta e os sintomas intestinais pode ser útil.
Alterações na dieta
É razoável tentar eliminar alimentos que possam agravar a SII, embora seja melhor consultar o médico antes de fazer alterações significativas à dieta. A eliminação de alimentos sem assistência pode potencialmente agravar os sintomas ou causar novos problemas se grupos alimentares importantes forem evitados.
Lactose
Muitos médicos recomendam a eliminação temporária de produtos lácteos, uma vez que a intolerância à lactose é comum e pode agravar a SII ou causar sintomas semelhantes. A maior concentração de lactose encontra-se no leite e gelados, embora esteja presente em quantidades mais pequenas no iogurte, no queijo, e em quaisquer alimentos preparados com estes ingredientes. Se o médico sugerir eliminar a lactose, deve evitar todos os produtos que a contenham durante duas semanas. Se os sintomas de SII melhorarem, é razoável continuar a evitar a lactose. Se os sintomas não melhorarem, poderá retomar a ingestão de alimentos que contenham lactose.
Alimentos que causam gás
Muitos alimentos são apenas parcialmente digeridos no intestino delgado. Quando chegam ao cólon (intestino grosso), ocorre uma maior digestão, que pode causar gás e cólicas. A eliminação temporária destes alimentos é razoável se o gás ou o inchaço forem incómodos. Os alimentos mais comuns que produzem gás são as leguminosas e os vegetais crucíferos. Além disso, algumas pessoas têm problemas com cebolas, aipo, cenouras, passas de uva, bananas, damascos, ameixas secas, rebentos e trigo.
Aumentar a ingestão de fibra
Aumentar a ingestão de fibras (quer adicionando certos alimentos à dieta ou utilizando suplementos de fibra) pode aliviar os sintomas da SII, particularmente se tiver obstipação. A fibra também pode ser útil em algumas pessoas com predomínio de diarreia, uma vez que pode melhorar a consistência das fezes. Um suplemento de fibras como psyllium ou metilcelulose também pode ser recomendado, uma vez que é difícil consumir fibras suficientes na dieta. Os suplementos de fibras devem ser iniciados numa dose baixa e aumentados lentamente durante várias semanas para reduzir os sintomas de excesso de gás intestinal, o que pode ocorrer em algumas pessoas quando se inicia a terapêutica com fibras. Uma alternativa estudada mais recente passa pela ingestão de dois kiwis por dia, que revelou bons resultados. As fibras podem tornar algumas pessoas com SII mais inchadas e desconfortáveis. Se isto acontecer, é melhor diminuir a ingestão das mesmas e considerar outros tratamentos laxantes para a obstipação.
Terapias psicossociais
O stress e a ansiedade podem agravar a SII em algumas pessoas. A melhor abordagem para reduzir o stress e a ansiedade depende da situação e gravidade dos sintomas. Uma discussão aberta com o médico sobre o possível papel que o stress e a ansiedade possam ter nos seus sintomas ajudam a decidir em conjunto a melhor linha de ação. Algumas pessoas beneficiam de aconselhamento formal, com ou sem medicamentos antidepressivos ou ansiolíticos. Outros tratamentos, tais como hipnose e terapia cognitiva comportamental, também podem ser úteis. A participação num grupo de apoio também pode ser benéfica. Muitos doentes consideram que o exercício diário é útil para manter uma sensação de bem-estar. O exercício também pode ter efeitos favoráveis sobre o intestino.
Medicamentos para a SII
Embora muitos medicamentos estejam disponíveis para tratar os sintomas da SII, estes são principalmente utilizados para aliviar os sintomas e promover a qualidade de vida. A escolha entre estes medicamentos depende, em parte, de o sintoma primário ser a diarreia, a obstipação, ou a dor. Regra geral, os medicamentos são reservados a pessoas cujos sintomas não tenham respondido adequadamente a medidas mais conservadoras, tais como alterações na dieta e suplementos de fibras. Se for necessária medicação, o médico deverá trabalhar com o doente para descobrir a abordagem certa para cada situação.
Mais sobre a SII
Várias terapêuticas naturais e à base de plantas têm sido publicitadas para o tratamento da SII. Infelizmente, não existem provas que sustentem o seu benefício. Embora pequenos estudos possam apoiar algumas destas terapêuticas, os estudos ou são demasiado pequenos ou têm grandes falhas que impossibilitam conclusões definitivas.
É importante monitorizar os sintomas ao longo do tempo. Se os sintomas mudarem, poderão ser recomendados mais testes. Com o tempo, menos de 5% das pessoas diagnosticadas com síndrome do intestino irritável (SII) serão diagnosticadas com outro problema gastrointestinal.
Embora a SII possa causar um desconforto físico substancial e sofrimento emocional, a maioria das pessoas é capaz de controlar os seus sintomas e viver uma vida normal sem desenvolver problemas de saúde graves.
Fontes:
American Gastrenterologic Association (https://gastro.org/practice-guidance/gi-patient-center/topic/irritable-bowel-syndrome-ibs/); Parkes GC, et al. (2012) Distinct microbial populations exist in the mucosa associated microbiota of subgroups of irritable bowel syndrome. Neurogastroenterol Motil ; 24 : 31-39. Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia (https://www.spg.pt/).